17.10.06

Surpresa

Os momentos de nostalgia acontecem a todo momento. Bozo, G.I. Joe, Changemans e Jaspions, Férias do Barulho, Show de Calouros e outras velharias (brinquedos, programas de TV, filmes...) que marcaram quem foi criança no final dos anos 80 e começo dos 90 sempre voltam à memória. Mas esses dias lembrei, do nada, uma guloseima típica da época que havia caído no esquecimento (pelo menos no meu).

Pra um guri de menos de 10 anos, na época, era normal colecionar álbuns do Campeonato Brasileiro e da Copa do Mundo. Na verdade, até hoje ainda é, mas já não é mais a mesma coisa. A gente rasgava os envelopinhos de papel cuidando pra não cortar um dos cantos da figurinha (geralmente vinham 3 em cada envelope). Às vezes era preciso colar com tenaz os cromos, pois não vinham com adesivo. E cuidar do bolinho de repetidas pra trocar com quem colessionasse era questão de honra.

Tá, mas álbuns de figurinha não são lembranças incomuns. Não é sobre isso que quero falar. O que albuns tem a ver com uma guloseima? Tudo, se eu estiver falando do saudoso chocolate Surpresa. Quem nunca comeu um, não teve infância.

Hoje vejo muitas pessoas da minha geração lembrando de Willy Wonka, Oompa Loompas e o bilhete premiado. Na verdade, A Fantástica Fábrica de Chocolate não foi um filme que marcou minha infância. Não que seja ruim, nem nada. Apenas não lembro de ter visto passar na TV. Fui assistir há apenas dois anos o original. Mas o chocolate que me marcou não foi o Wonka, mas o Surpresa.

O chocolate era uma barrinha retangular fina. Dentro da embalagem vinha um cartão de papelão. Era a figurinha. Os álbuns, cada um com tema específico sobre animais, normalmente eram trocados por um número x de embalagens. Lembro de coleções sobre animais em extinção, marinhos, dinossauros, etc. Em cada barra tinha um animal esculpido em auto relevo (sobre o chocolate mesmo!).

Como era bom devorar o doce e colar a figura no álbum (com tenaz). Pena que não sei onde foram parar minhas coleções de Surpresa. É coisa de velho, mas tenho que fazer uma constatação: não se faz mais chocolate como antigamente.

Que Wonka,que nada. Eu gostava de Surpresa!

11.10.06

"No hay banda!!!"

Há pouco resolvi fazer a lista dos meus 5 filmes preferidos. Vou comentar cada um e quando der na telha registro por aqui. O primeiro escolhido é este:

* Cidade dos Sonhos *
(Mulholland Drive, 2001, EUA/França)
Direção: David Lynch. Elenco: Naomi Watts, Laura Harring, Justin Theroux, Ann Miller, Mark Pellegrino, Dan Hedaya, Chad Everett, Lee Grant, James Karen, Robert Forster.

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Esse assisti há pouco tempo, e pelo que ouvia a respeito, já esperava um filme complexo, difícil de entender e para ser apreciado por poucos. E na verdade foi o que constatei. Só que foi o primeiro filme "complexo" (leia-se filme sem pé-nem-cabeça, a princípio, que precisa ser assistido várias vezes pra fazer sentido) que me instigou a buscar as respostas pra decifrar o enigma. Os outros eram cansativos até então e não despertavam a curiosidade. Mas este mudou minha forma de ver um filme. Se vale cotação, este filme merece 5 estrelas, nota 10, como preferir.

Mulholland Drive conta a história de Diane (Naomi Watts), uma aspirante a atriz que se hospeda na casa de sua tia Ruth, em Los Angeles, à espera do teste para um filme. No local, encontra Rita (Laura Harring), uma moça que sofreu um acidente automobilístico (em Mulholland Drive, a estrada que dá nome ao filme), perdeu a memória e se escondeu na casa da tia Ruth (que viajou para outra cidade). Diane simpatiza com a hóspede misteriosa e ambas partem numa jornada em busca da identidade da moça.

Esse é o ponto de partida para uma trama que envolve personagens (a princípio) deslocados na narrativa em situações beirando o bizarro: um assassino profissional atrapalhado, um diretor de cinema pressionado pela máfia a escolher uma atriz que não lhe agrada, um cowboy misterioso, detetives que seguem as personagens principais... todas essas figuras esquisitas desfilam na tela. A lista vai longe, mas cabe uma dica a quem se interessar por esse baita filme: nem tudo é o que parece ser (!) e nem todos são quem são (!!). Preste atenção em todos os cantos da tela e saiba que não é um filme para entender, mas para interpretar. Tudo que está lá, é por alguma razão. As conclusões só poderão ser tiradas assistindo outras vezes, percebendo detalhes surpreendentes que ajudam a preencher o quebra-cabeça e discutindo com outras pessoas a respeito.

Ao fim, fica a sensação de que algo passou bem embaixo do próprio nariz e o espectador não percebeu. Não vou explicar a minha moral da história (cada um deve tirar suas próprias conclusões, não há como dizer "o filme é isso e ponto"), quem sabe numa outra oportunidade, mas cada cena, cada detalhe na tela é passível de interpretação. A maioria das explicações pro filme busquei em teorias de outras pessoas que assistiram Mulholland Drive, algumas interpretei por conta própria (como a cena do teste de Diane para o filme). Ao assistir Mulholland Drive pela primeira vez, fica a sensação de que não é um filme comum. E é preciso voltar lá quantas vezes for preciso para encontrar as respostas.

Como já disse, é um filme para poucos, mas quem entrar na "viagem" de David Lynch, vai ficar impressionado. É de arrepiar o clima de tensão durante os 140 minutos de filme. Mesmo que a cabeça fique confusa, não tem como piscar no decorrer da história. Claro, tudo depende de quanto você estiver disposto a embarcar na trama e aceitar que nem tudo é o que parece ou não é como estamos acostumados a ver acordados. De quebra, Mulholland Drive oferece interpretações ambíguas e misteriosas (como o filme é) e uma trilha sonora arrepiante, que ajuda a prender a atenção.

A melhor dica pra começar a decifrar o enigma da Cidade dos Sonhos está em uma das últimas cenas do filme, em que Diane e Rita chegam ao Club Silencio, após uma noite tórrida entre as duas. No palco, um apresentador diabólico alerta a platéia: No hay banda, é tudo uma ilusão. Assista e descubra. Boa viagem!
Ou sería "bom sonho"?!?!

6.10.06

De volta ao Velho Oeste


Um gênero cinematográfico centenário que retrata parte da História e dos costumes norte-americanos, o Western permanece vivo, apesar da baixa produção atual. Desde a estréia do curta-metragem The Great Train Robbery, em 1903, nos Estados Unidos, os filmes de faroeste proporcionaram momentos marcantes na História do Cinema.

A denominação para o gênero no Brasil, faroeste, se refere ao Far West, fronteira do Oeste norte-americano durante a colonização, cenário para a maioria das produções. Western significa ocidente e remete à região citada.

O Western compreende produções ambientadas no período entre meados do século XIX e início do XX. Era um tempo de transição no Oeste, de ocupação de terras, de batalhas contra os índios e de busca por dignidade. Nesse cenário hostil, a melhor forma de garantir a segurança é agindo com violência.

No Oeste Selvagem a ferrovia ainda está se instalando. O telégrafo é a principal forma de comunicação. A imprensa começa a engatinhar. São os indícios da chegada da civilização à fronteira ocidental americana.

A figura do cowboy, montado em seu cavalo, com sua arma na cintura, é presença constante nesses filmes. Seja em busca de recompensa, vingança ou honra, os mocinhos não medem esforços em suas batalhas épicas. Perseguições, confrontos corpo a corpo e duelos são ações típicas destes heróis.

Impossível esquecer realizadores que caracterizaram a época áurea do Western e influenciaram gerações de cineastas, como John Ford, Howard Hawks, e Sergio Leone. E os mocinhos e bandidos vividos por astros do calibre de John Wayne, Clint Eastwood e Henry Fonda ficarão imortalizados na tela do cinema.

O gênero, tipicamente norte-americano, ficou no esquecimento depois do último grande sucesso, Os Imperdoáveis, de 1992. Porém, os filmes de faroeste jamais sairão da memória dos amantes do velho e bom bang bang.

- Texto elaborado em novembro de 2005